Histórico da Biblioteca Central

O JORNADEAR DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFES : UMA BREVE NARRATIVA

Ana Maria de Matos Mariani (pesquisa e texto)

Marta Martinez Pontes e Martins (pesquisa)

A história da Biblioteca Central encontra-se circunscrita à história da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Por isso, importa resgatar um pouco dos primórdios desta Universidade.

Tudo começou com a Universidade do Espírito Santo (UES), fundada em 5 de maio de 1954, quando suas faculdades eram isoladas, cada uma com sua própria biblioteca.

Com a federalização da UES (30 de janeiro de 1961), o governo federal indicou o professor Jair Etienne Dessaune para responder, interinamente, pela reitoria. O referido docente, numa iniciativa singular, improvisou na garagem e no escritório de sua residência as primeiras instalações administrativas da recém-nascida Ufes. Todavia, naquele momento, não fora possível unir as coleções das bibliotecas de cada faculdade. Mas a ideia de junção dos acervos encontrava-se latente. Dois anos depois (1963), criou-se o Serviço Central de Bibliotecas, com funcionamento no antigo prédio da Faculdade de Ciências Econômicas, situado na Avenida César Hilal.

A partir da implementação da reforma das universidades brasileiras, a Ufes tomou novos rumos: reformulou sua estrutura e estabeleceu o Campus Universitário Alaor Queiroz de Araújo, em Goiabeiras, como o lugar de reunião de suas faculdades. Assim, enquanto se erguiam as primeiras construções nesse novo espaço, o Serviço Central de Bibliotecas atuava no edifício Santa Cecília, no Parque Moscoso. E o que era semente germinou em 1973, com a organização desse acervo – que se efetivou a partir da assinatura de um contrato entre a Universidade e uma bibliotecária –, nasceu a Biblioteca Central da Ufes. Contudo, esta ainda não possuía um lugar próprio.

No Campus de Goiabeiras, algumas construções já estavam finalizadas; a Biblioteca mudou-se para esse sítio. Não obstante, continuou sua trajetória nômade, buscando onde assentar-se. Suas primeiras instalações estiveram numa sala cedida pelo Centro de Educação Física. Logo depois, transferiu-se para o prédio em que atualmente funciona a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). Essa mudança despertou grande euforia em sua equipe, uma vez que, entre outros motivos, o espaço possuía excelentes acomodações. No entanto, sua permanência ali foi curta. Dois anos depois, uma catástrofe se lhe ocorreu. Um violento temporal provocou o desabamento parcial do teto, causando a queda de prateleiras, cujos livros, num percentual aproximado de 40%, foram danificados pelas águas.

A forte chuva que ocorreu em 1976 provocou uma perda considerável de acervo, bem como a frustração das expectativas que se puseram sobre o funcionamento da Biblioteca Central naquele ambiente. Com o teto parcialmente rompido e as instalações destruídas, mais uma vez ela precisou se retirar para outro local; instalou-se na Célula Modular Universitária (Cemuni), nº VI, do Centro de Artes, onde funcionou em condições precárias.

Diante dessa realidade, uma Comissão foi instalada a fim de viabilizar a construção da sede da Biblioteca Central. Nesse empreendimento, autoridades da Ufes e o responsável pela criação do projeto – o arquiteto Dr. José Galbinski –, em comum acordo, decidiram romper com a tendência até então existente e apresentaram à comunidade universitária uma estrutura ímpar de edifício, uma vez que as construções seguiam um planejamento de ordenação urbanística e um modelo padronizado e repetitivo.

Ergue-se, assim, no centro geográfico do plano piloto de construção do Campus de Goiabeiras, em local elevado, um prédio imponente de 5.578 m2, com três andares e paredes externas de vidro, pela quais é possível enxergar, como numa vitrine, seu conteúdo, sua gente, seu movimento. Esse modelo arquitetônico de extração moderna não agride seu entorno, relaciona-se com o ambiente de forma harmoniosa.

A peregrinação do acervo por 19 anos chegou ao fim. A Biblioteca Central mudou-se pela última vez. Sua sede, inaugurada em 16 de agosto de 1982, recebeu o nome do professor Fernando de Castro Moraes.

Nas décadas de 1980 e 1990, uma grande efervescência cultural despontou nas amplas dependências da Biblioteca: apresentação musical, exposições artísticas e eventos culturais e científicos, tais como: Semana do Livro, Núcleo de Ciência e a parceria com 46ª Reunião Científica da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Nesse contexto, veio à tona a necessidade de desenvolvimento da coleção, bem como a vontade de retomar o contato com os alunos egressos da Instituição e o desejo de trazer a comunidade capixaba para dentro da Ufes, o que motivou a equipe da Biblioteca a lançar o Projeto Nosso livro, com um Slogan que interpretava o cerne da campanha: Doe um órgão de conhecimento: mantenha viva a biblioteca da Ufes.

De 1982 a 1994, a Biblioteca Central caminhou, basicamente, com a mesma estrutura física da inauguração. Mas o projeto Nosso Livro trouxe muitos frutos; os objetivos foram alcançados. Com o crescimento de sua coleção, novas estantes precisaram ser inseridas em seu acervo, e mais consulentes frequentavam seu espaço. Assim, a primeira grande reforma no prédio fez-se necessária.

A modificação dessa estrutura, iniciada em 1994, teve como tônica a substituição do piso de carpete por um assoalho emborrachado que promovia um ambiente silencioso, arejado e de limpeza mais simples. Esse processo durou 18 meses.

A informatização da Biblioteca, também, ocorreu nesse período e configurou um marco em sua vereda, sempre avançando no processo de facilitar o acesso à informação: dos primeiros terminais da International Business Machines (IBM) – que possibilitaram o empréstimo por meio do Sistema Automatizado de Biblioteca (SAB-2) – e dos primeiros serviços em rede ao acesso a bases dados, aos e-books, à comunicação remota.

Da inauguração do prédio da Biblioteca Central aos dias atuais, verifica-se que o processo de urbanização do campus ocorreu em diversas e múltiplas direções. Tendo sempre a Biblioteca como referência, desde a sua vinda para o Campus de Goiabeiras até as recentes construções, pode-se perceber, em seu entorno, que as trilhas de chão batido tornaram-se passarelas pavimentadas. Aos poucos caminhos existentes, foram acrescentadas numerosas veredas de acesso. No atual tapete verde, encontra-se uma vegetação diversa, farta e altiva. A lagoa passou por tratamento de limpeza e ganhou uma nova face paisagística, de cujas margens é possível contemplar o diálogo harmonioso que há entre a Biblioteca e a natureza que a envolve. Assim, sem nenhum pudor, através de portas e vidraças, a dama tudo vê e a todos se expõe.

39 anos passaram, desde a primeira organização de seu acervo (1973). A Biblioteca Central, nesse tempo, promoveu e executou muitos projetos; implantou e modificou paradigmas. Numa apreciação retrospectiva, constatamos que nesse ínterim ela se instalou em diversos locais. Em sua sede, os eventos culturais e científicos tomaram força e forma. O Projeto Nosso livro trouxe para dentro da Ufes gente que já tinha ido e gente que nunca tinha vindo. A substituição do piso conferiu-lhe um ar renovado. A informatização continuou avançando no processo de simplificar o acesso à informação.

Atualmente, entre os diversos progressos, pontua-se o desenvolvimento do acervo e do seu uso. A coleção – de início com aproximadamente 75 mil volumes – encontra-se, hoje, com 322.950 exemplares (entre livros, dissertações e teses, multimeios e periódicos), disponibilizando consulta on-line ao seu catálogo e acesso também a material bibliográfico em formato digital; soma-se a isso o atendimento a inúmeros pesquisadores diariamente.

Assim, a errante que vivia à margem conquistou espaço. Numa topografia central e elevada, sua figura bela e sedutora passou por reformas, mas que não alteraram seu aspecto suntuoso. O mesmo não se pode dizer do seu entorno onde as transformações saltam à vista. Isso convida o leitor a um passeio. Na linha do tempo, o olhar se afasta da estrutura física da Biblioteca e repousa em sua volta: observa-se que a vegetação inexistente há trinta anos hoje é exuberante e generosa. As palmeiras conferem-lhe um ar de realeza, as árvores altaneiras protegem-na da incidência agressiva do Sol, a grama lhe estende um tapete verde-escuro recortado por caminhos que dão acesso a quem a procura. Como um coração que pulsa e espalha vida por artérias, as trilhas que dela saem e a ela chegam conduzem sustento à comunidade em que está inserida. Essas alternativas de acesso (que hoje também são virtuais) subsidiam essa comunidade no processo de obter informação, ratificando a Biblioteca enquanto agente participante do lema Docete omnes gentes (Ensinai todas as pessoas).

O sonho de abrigar num mesmo lugar o acervo que já esteve separado – cuja reunião, por força de circunstâncias, seguiu um percurso itinerante e cheio de percalço – tornou-se concreto. A nômade, enfim, fixou-se em platô fértil, criou raízes, deu frutos. De seu lugar seguro, a Biblioteca Central da Ufes, atuando de maneira rizomática, dissemina conhecimento e o continuará fazendo.

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